Ou você está no “face” ou não está no mundo. Essa é a era da comunicação, em que deve-se estar conectado para que haja o sentimento de pertencimento ao grupo. Todos vivemos na chamada grande rede, e nela tudo parece fazer sentido, afinal, todos estão sorrindo. A rede parece garantir a felicidade, logo se você não está na rede, você não só não está no mundo, como também não é feliz. Mas, será que essa felicidade Facebook é real?

Como dito, no face todos estão sorrindo (você já viu alguém triste?), tudo parece fazer sentido, é como se a vida real tivesse se tornado uma extensão, um plug-in da rede. Melhor, um aplicativo que baixa-se no play store. Entretanto, se a vida deslocou-se para o face, se a felicidade está no face, o que acontece na vida real? Esses são questionamentos para quem conseguiu manter-se na superfície. A resposta para as perguntas é simples – a felicidade Facebook não é real e apenas esconde a solidão que nos encontramos. O sucesso do Facebook é determinado pela facilidade em desconectar, de modo que não há uma preocupação em criar laços, mas apenas em se manter “conectado”. Sendo assim, como não crio laços, tenho a necessidade do mundo me oferecer algo novo o tempo inteiro.

Em outras palavras, passamos pela vida sem que nós e os outros tenham importância e, portanto, tentamos substituir a qualidade dos relacionamentos pela quantidade. Desse modo, precisamos postar 48 fotos por dia, como se precisássemos da aprovação do outro, quando, na verdade, vivemos apenas uma representação e diante disso, não vivemos nada.

Ou seja, como na verdade não sou feliz, preciso compartilhar tudo a fim de que pelo olhar do outro haja a aprovação de que a minha vida possui o valor necessário para se sustentar. E como todos vivem uma fantasia, todos mentem uns para os outros, como se fosse condição necessária para manter a felicidade de todos.

Pelo medo de encarar o vazio que nos tornamos, preenchemos esse vazio com ligações e WathsApp(s). Assim, toda barafunda do Facebook é apenas para esconder aquilo que eu não quero ver, isto é, o meu vazio e como estamos cada vez mais sozinhos, muito embora, paradoxalmente viva-se na era da grande rede. Isto é, temos a necessidade de postar e compartilhar o maior número de coisas a fim de que os likes preencham o nosso vazio existencial.

É preciso que as pessoas curtam a vida que eu não estou curtindo, digo mais, é condição necessária ter pessoas legitimando aquilo que eu gostaria que fosse, para que o teatro seja mantido. Buscando o melhor enquadramento nas fotos, escondo o vazio que sou, a solidão que atormenta e o distanciamento das relações.

Essa urgência em ter pessoas legitimando aquilo que eu gostaria que fosse, me impede de refletir sobre a própria vida, ou seja, não há uma tomada de consciência, em que o indivíduo é o dono do próprio destino, já que está sempre submetido ao espetáculo, pois este garante aplausos, mesmo que não passe de uma simulação.

Enquanto não acordarmos, estaremos mais ligados à internet, ao teatro, mais sozinhos e, portanto, desligados do real e das pessoas. É necessário ter a consciência do ser, pois não é fingindo ser, e, logo, não sendo, que há relações, tampouco, felicidade, pois essa reafirmação de um eu que não existe implica apenas a solidão que nos aflige, as ilhas emotivas que nos tornamos.

Imersos nesse espetáculo, talvez, não consigamos perceber que quanto mais desesperados por likes, mais sozinhos estamos e que, embora, a internet e o Facebook sejam instrumentos poderosíssimos, os quais podem ser utilizados como ferramentas de aproximação, estamos os substituindo pela vida real, e pior, por uma vida que não existe.

Esse desespero por likes só representa indivíduos cada vez mais solitários. Isso acontece pela dificuldade em estabelecer relações reais, e, por conseguinte, fortes; de encarar a si mesmo, a própria consciência e admitir que a vida não está passando de uma encenação.

A felicidade Facebook representa uma sociedade doente, mas que busca esconder-se. Faz-se necessário coragem para encarar-se e viver o que realmente somos, dizer o que realmente estamos sentido, fazer da rede uma extensão da vida real e não o contrário. Sabemos o quanto isso é difícil, pois temos medo de nos encarar, mas enquanto esse medo não for superado, continuaremos alimentando o palco que a vida se transformou, pois como diz o poeta:

“Esse mundo é um saco de fingimento.”







Poderia dizer o que faço, onde moro; mas, sinceramente, acho clichê. Meus textos falam muito mais sobre mim. O que posso dizer é que sou um cara simples. Talvez até demais. Um sonhador? Com certeza. Mais que isso. Um caso perdido de poesia ou apenas um menestrel caminhando pelas ruas solitárias da vida.