Por Erick Morais
A vida é feita de ciclos. O tempo está em constante movimento, o mundo em permanente transformação e inseridos nesse processo, nós também estamos nos modificando. Dessa maneira, de tempos em tempos – em função das mudanças que ocorrem dentro de nós e, consequentemente, nos reflexos que isso produz no mundo exterior – ciclos se encerram nas nossas vidas, outros tantos se iniciam e alguns recomeçam. Essas transições/relações nem sempre são fáceis, porém, como dito, são processos inexoráveis à vida.

A vida, no seu decorrer do tempo, nos faz estar submetidos a novas situações, a escolhas, a descobertas, e isso faz com que nós mudemos, tomemos outros caminhos, reforcemos algumas ideias e em contrapartida deixemos de acreditar em algumas; enfim, é algo natural e faz parte da evolução do ser, a meu ver. São as metamorfoses cantadas por Raul e escritas por Rubem Alves.

Essas metamorfoses que nos ocorrem fazem com que deixemos alguns ciclos de lado, iniciemos outros e renovemos alguns que se tornam mais fortes por conseguirem resistir a passagem do tempo e todas as implicações que ela produz. A partir dessa perspectiva individual de mudança acontecem outras relacionadas às nossas relações afetivas, uma vez que é preciso adaptar as novas ocorrências a relações preexistentes a elas. Nesse ponto se encontra o cerne da questão.

Fazer essas adaptações ou reintegrações de emoções, sentimentos, desejos, cosmovisões em algo que já estava estruturado em outras bases é um processo extremamente complicado. Depende de muito esforço, muita conversa, muito desprendimento e muita empatia para que se possa se colocar no lugar do outro e tentar compreender aquela pessoa, a qual, ainda que com a mesma essência, possui modificações que a tornam diferente daquela que existia.

Possuir essa capacidade é algo raro, de modo que na medida em que não se consegue promover essas novas conexões, as pessoas vão inevitavelmente se afastando, tornando-se estranhas e, por consequência, o ciclo que elas possuíam não consegue se renovar e chega ao fim.

É bom salientar que em alguns casos, por mais que haja esforço e novas conexões tentem ser estabelecidas, há uma perda de sintonia entre as pessoas que se relacionam e o ciclo que as une realmente chega ao fim. No entanto, na maior parte dos casos, o que percebo é que as pessoas não se esforçam pelas outras, se acomodam nas suas zonas de conforto, em que as relações devem permanecer eternamente da mesma forma que se formaram. Mas isso nem sempre é possível, porque as pessoas mudam e isso não é algo negativo.

É um processo de evolução necessário para o crescimento do ser; até porque, não estou me referindo a mudanças na essência do indivíduo ou em situações em que este se torna um babaca, por exemplo. Falo das mudanças que nos fazem crescer enquanto ser humano, que nos permitem enxergar a vida de outra forma, de processos, inclusive, muito dolorosos, mas que nos trazem experiências que mudam os nossos olhos. Isso ocorre em todos – em alguns mais, outros menos – mas acontece e é necessário que as relações saibam se transformar, evoluir, para que os ciclos se renovem e não morram.

Mais uma vez, esse processo é muito difícil, porque exige muita sensibilidade e empatia de quem faz parte da relação. Entretanto, sem o esforço para que ela consiga se renovar, é impossível dar-lhe prosseguimento, pelo menos de modo saudável e com vida. O que ocorre, no fim das contas, é que muitos relacionamentos bonitos (em sentido amplo) acabam tendo os seus ciclos encerrados ou empurrados com a barriga por sermos incapazes de deixar o nosso umbigo de lado e observar o que está acontecendo do outro lado da ponte. Um pouco mais de esforço e sensibilidade nos ajudaria a não deixar os ciclos se fecharem, as pontes que nos unem caírem e as pessoas que amamos transformarem-se em estranhos.







Poderia dizer o que faço, onde moro; mas, sinceramente, acho clichê. Meus textos falam muito mais sobre mim. O que posso dizer é que sou um cara simples. Talvez até demais. Um sonhador? Com certeza. Mais que isso. Um caso perdido de poesia ou apenas um menestrel caminhando pelas ruas solitárias da vida.