A repressão instaurada pela ditadura teve reflexos diretos na educação. Desde a repressão descarada à alteração dos cursos e a infiltração de agentes em salas de aula, para controlar os professores e o movimento estudantil. A existência, ainda, de escolas com nomes dos ditadores e outros próceres da ditadura, expressa também a sobrevivência dos efeitos da ditadura no plano educacional.

Quero destacar aqui um aspecto particular dos danos causados pela ditadura na educação, que permanecem até hoje. Antes do golpe militar, conviviam nas escolas públicas estudantes de classe média e de classes populares. Eu mesmo estudei no Grupo Escolar Marechal Floriano, na Vila Mariana e, depois, no Colégio Estadual e Escola Normal Brasílio Machado, que funcionava no mesmo prédio, à noite.

A ditadura impôs não apenas a repressão física, mas também o arrocho salarial, paralelamente à intervenção em todos os sindicatos e a perseguição dos dirigentes sindicais. O arrocho foi o santo do “milagre econômico”. Junto a outras medidas econômicas de favorecimento do grande capital nacional e internacional, permitiu a retomada da expansão econômica, agora com um modelo baseado na super exploração dos trabalhadores, nos créditos generosos ao grande capital, à abertura da economia ao capital internacional.

O arrocho se deu também para os trabalhadores do setor público. Os trabalhadores da educação foram particularmente atingidos por essa política, promovendo uma baixa radical na qualidade do ensino público. Foi a partir desse momento que a classe média passou a bandear-se da escola pública para a privada, no esforço de fazer com que seus filhos tivessem melhores possibilidades de ingressar na universidade.

Os enormes gastos com educação privada passaram a fazer parte do orçamento da classe média, financiando a extensão do ensino privado, enquanto as escolas públicas ficavam restritas basicamente aos estudantes originários das classes populares. A deterioração da sua qualidade foi acentuada desde então, com ensino deficiente e perda do espaço das escolas públicas como forma de disseminação de conhecimento e como lugar de socialização para grande parte das crianças e jovens das classes populares.

Esse dano cruzou todo o período pós-ditatorial e se faz sentir até hoje, com maior intensidade inclusive, quando as escolas perderam capacidade de atração para a maior parte das crianças e dos jovens das famílias pobres, quando são justamente os que mais precisam do conhecimento – para entenderem o porquê da miséria em que vivem, e para encontrarem espaços de formação, de cultura e de lazer.

Foi uma das mais cruéis e duradouras heranças da ditadura.







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