Por Vinicius Siqueira

Zygmunt Bauman foi um dos maiores sociólogos do século XX e XXI. Viveu na Polônia e lecionou na Universidade de Varsóvia, local de onde foi expulso no pós-guerra devido ao antissemitismo que alí se instalou.

Depois disso, se mudou para a Inglaterra, tornou-se chefe do departamento de sociologia da Universidade de Leeds. Foi no fim de sua carreira acadêmica que o autor tornou-se prolixo no trato da dita modernidade líquida.

Em 2015, o sociólogo veio ao Brasil para um seminário no evento Educação 360, sob o tema Desafios líquidos modernos para a educação. É neste contexto que o Observatório da Imprensa conseguiu uma reunião entre Alberto Dines, grande jornalista brasileiro, e Zygmunt Bauman, que resultou na entrevista disponível no fim desta matéria.

Multiplicação e modernidade

“Ele pensa as questões da sociedade com uma formação sociológica muito forte. É um pensador em extinção”, declara Renato Lessa, presidente da Fundação Biblioteca Nacional. “Sua crítica utiliza a metáfora da liquidez, em que as interações perderam sua estrutura e abriram espaço para um mundo mais aleatória, onde o sentido parece desaparecer ou se multiplicar infinitamente”.

A multiplicação infinita do sentido é, na prática, seu desaparecimento, já que sua fixidez é perdida em nome das múltiplas possibilidades que a contemporaneidade abre. A perda de estabilidade pode ser universalizada para outros tipos de relações sociais e um de seus modelos mais fortes é o matrimônio.

“Atualmente, é muito fácil desfazer uma relação. O descarte, antigamente, tinha rituais: desfazer um casamento insolúvel era muito complicado e, às vezes, implicava em sair da lei, hoje é possível desfazer o casamento num cartório, sem acionar a lei. Nós desritualizamos a separação, banalizamos a dissolução do laço”, afirma Renanto Janine Ribeiro, filósofo e ex-ministro da Educação. Sua intervenção precisa ser entendida como a explicação de um modelo em decadência, não como defesa do matrimônio aos moldes conservadores, o autor quer deixar claro que um modelo rígido de interação foi perdido.

A crítica de Bauman, assim, valoriza a lentidão, o processo de pensar detalhadamente sobre cada ação. A contemporaneidade é a era da informação, mas a quantidade absurda que é jogada em nós não permite o uso das pausas, do pensamento reflexivo. Bauman é, assim, um grande crítico da informação sem reflexão.

“Quando eu era jovem, eu e minha geração acreditávamos que o que nos impedia de resolver todas as questões do mundo era a ausência do conhecimento correto. Nós precisávamos de mais pesquisa, mais recursos para pesquisas, mais dados e mais informação. Agora, eu acredito que se passa o contrário, nosso principal obstáculo é o excesso de conhecimento, excesso de informação. Nós somos inundados de informação”, afirma Bauman.

Ao mesmo tempo, o medo ganha destaque em sua análise. O medo funciona como forma de administrar a sociedade, na medida em que aumenta o consumo de ferramentas de proteção (como câmeras, armas, roupas de proteção e equipamentos policiais) e a necessidade de agentes especializados na violência, como os policiais militares, no Brasil.

“Eu compro um plano de seguro para meu carro, eu tenho medo de que o roubem; o medo de adoecer e não haver médico, por exemplo, é o medo que me faz comprar um plano de saúde; o medo de andar na rua sem ter segurança é aquele que multiplica o aparelho policial”, diz Muniz Sodré, jornalista e professor da UFRJ.

Ao ser indagado por Dines sobre o estado de guerra permanente em que vivemos, Bauman afirma, “eu não iria tão longe nem seria tão radical para afirmar que estamos vivendo um estado de guerra. O que você chama de estado de guerra, eu chamo de estado permanente de mútua suspeita e competição. Todos nós estamos em competição potencial uns com os outros”.

O medo, portanto, é internalizado a partir do próprio modus operandi social, em que a desconfiança e a competição são colocadas como valores a priori.

Cada comentário do autor parece compor um baú de noções que se concentra na visão fragmentária da experiência cotidiana de vida.

Na entrevista abaixo, Bauman passa por suas obras, comenta os problemas relativos ao boom informacional, as novas formas de controle no ambiente de trabalho, as consequências do liberalismo e o conceito de utopia, além de sua relação com a sociologia e sua experiência em escrever diretamente para o público amplo, não para sociólogos.

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Vinicius Siqueira é formado em sociopsicologia e editor do Colunas Tortas.







Formado em sociopsicologia e editor do Colunas Tortas.