Quando a gente é criança, o mundo inteiro passa pelos olhos dos nossos pais. O que eles fazem, dizem e permitem vira o nosso “normal”, mesmo quando isso machuca.
Por isso, muitas pessoas só começam a desconfiar que foram vítimas de abuso emocional muitos anos depois, quando já são adultas, em terapia ou em relacionamentos que vivem saindo do eixo.
Nem toda falha ou erro de um pai é abuso – ninguém cresce com pais perfeitos –, mas algumas atitudes se repetem tanto e de forma tão intensa que deixam marcas profundas na forma como nos vemos e nos relacionamos.
A seguir, estão comportamentos típicos de pais emocionalmente abusivos e como isso pode se manifestar hoje na sua vida adulta. A ideia não é apontar o dedo, e sim ajudar a colocar nome em coisas que talvez você sempre tenha sentido, mas nunca conseguiu organizar na cabeça.
Se você cresceu pisando em ovos, tentando adivinhar “como seu pai ou sua mãe estaria hoje”, isso vai além de um simples dia ruim.
Quando o humor dos pais muda de forma brusca e imprevisível, a criança passa a viver em estado de tensão, calculando cada palavra e cada gesto para evitar explosões, broncas ou frieza.
Esse clima constante de “cuidado com o que você faz” aumenta o nível de estresse da criança. Com o tempo, o corpo e o cérebro passam a funcionar quase em modo de emergência, o que pode influenciar na saúde emocional e física ao longo dos anos, mesmo depois de adulta.
É diferente receber um feedback pontual e crescer ouvindo que tudo que você faz tem defeito.
Pais emocionalmente abusivos costumam focar quase exclusivamente no que consideram falhas: seu jeito de falar, de se vestir, as notas da escola, suas amizades ou até seu corpo.
Quando isso se repete por anos, a criança internaliza esse discurso. Mais tarde, na vida adulta, essa voz vira um crítico interno implacável, que desvaloriza conquistas, sabota decisões e alimenta a sensação de não ser suficiente para nada nem ninguém.
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Chorar, ficar triste, sentir medo ou frustração faz parte do desenvolvimento. O problema começa quando, sempre que você tentava mostrar o que sentia, ouvia coisas como “isso é drama”, “você é muito sensível”, “para de frescura” ou “tem gente passando fome, olha o que você está reclamando”.
Esse tipo de resposta ensina a criança que sentir é errado ou exagero. Em casos mais graves, pode levar a comportamentos extremos para chamar atenção para a dor, inclusive automutilação ou atitudes de risco, porque a mensagem recebida foi: “só vão me enxergar se eu estiver no limite”.
Um pai ou mãe passivo-agressivo não grita, mas fere de outro jeito. Sorri por educação, responde de forma seca, faz comentários atravessados, se coloca como vítima o tempo todo, usa piadas para humilhar ou rebaixa com ironia.
Para a criança, é confuso: o clima parece “normal” por fora, mas há um gelo emocional constante.
Ela percebe que algo está estranho, mas não consegue explicar. Esse tipo de ambiente mina a confiança do filho nas próprias percepções, como se ele estivesse sempre exagerando ao notar a frieza ou a hostilidade disfarçada.
Pais que vivem dominados pela própria ansiedade tendem a despejar esse peso nos filhos, muitas vezes sem perceber.
Comentários catastróficos, preocupações extremas com tudo, crises constantes e pedidos de ajuda emocional para a criança funcionam como um fardo que ela não tem estrutura para carregar.
Com isso, o estresse vira rotina. O corpo passa a produzir hormônios ligados à tensão, e essa exposição prolongada pode contribuir para crises de ansiedade, dificuldades de relaxar e sensação permanente de “estar devendo algo” já na vida adulta.
Uma frase típica de culpabilização é: “Depois de tudo que eu faço por você, é assim que você me trata?”.
Pais emocionalmente abusivos usam esse tipo de fala para colocar o peso das emoções deles nos ombros dos filhos, como se a criança tivesse a obrigação de manter o adulto bem.
Com o tempo, isso pode gerar um padrão de comportamento em que você se sente culpado por qualquer conflito, mesmo quando não fez nada de errado. Em relações adultas, é comum aceitar desculpas esfarrapadas e se responsabilizar pela agressividade ou frieza do outro.
Em vez de conversar, explicar ou impor limites de forma clara, alguns pais resolvem dar gelo: param de falar, ignoram, fingem que o filho não existe por horas ou dias. Esse tratamento silencioso fere profundamente, porque a criança depende emocionalmente daquele vínculo.
Quando o gelo vira ferramenta de controle, o filho aprende que pode ser “apagado” a qualquer momento. A reação costuma ser um desespero para agradar, pedir desculpas por tudo e aceitar qualquer condição só para sair daquela exclusão afetiva.
Talvez seus pais estivessem em casa, dividindo o mesmo espaço, mas sem olhar de verdade para você.
Celular, trabalho, TV, uso de álcool ou outras drogas podem virar barreiras constantes. O corpo está ali, mas o vínculo não.
Para uma criança, isso passa a mensagem de que ela não é interessante o suficiente para ser ouvida.
Na vida adulta, isso pode aparecer como dificuldade de se conectar com as pessoas, sensação de isolamento mesmo cercado de gente ou escolha de parceiros que também se mostram emocionalmente indisponíveis.
Controlar tudo o que o filho faz, lê, escreve e conversa não é cuidado, é invasão. Ler diário escondido, vasculhar celular, checar e-mails, exigir senhas de todas as redes e monitorar cada passo cria um ambiente em que a criança não tem espaço para desenvolver autonomia.
Quando o envolvimento do pai ou da mãe passa de interesse para vigilância, a mensagem é clara: “você não é confiável e não pode ter nada só seu”.
Mais tarde, isso pode gerar dificuldade em impor limites, medo de dizer “não” e tendência a aceitar invasões de espaço em amizades e relacionamentos amorosos.
Quem cresceu lidando com abuso emocional muitas vezes aprendeu que, para sobreviver, era preciso engolir mau humor, grosseria e desrespeito.
O resultado é que, na vida adulta, quando alguém trata essa pessoa mal, ela se pergunta primeiro: “o que eu fiz para provocar isso?”.
Esse padrão faz com que a vítima permaneça em relacionamentos tóxicos, normalizando atitudes abusivas. Em vez de reconhecer que o outro está passando dos limites, a pessoa revira a própria mente buscando onde errou, repetindo a lógica aprendida na infância.
Alguns adultos que passaram por abuso emocional recorrem a estratégias de alívio que, no fundo, só aprofundam a dor: automutilação, uso abusivo de álcool ou drogas, compulsões, relações sexuais sem cuidado, entre outras.
Esses comportamentos não surgem do nada; funcionam como tentativas desesperadas de lidar com feridas antigas para as quais a pessoa nunca recebeu ferramentas saudáveis.
Importante lembrar: nem todo comportamento autodestrutivo está ligado à infância, mas quem viveu abuso emocional tem risco maior de seguir por esse caminho.
Talvez você diga para si mesmo que “seus pais foram normais” ou que “todo mundo apanha e escuta grito”, mas, quando pensa neles, sente um nó no estômago, raiva ou um ressentimento teimoso.
Às vezes, basta uma ligação ou mensagem para desencadear um incômodo que você mesmo considera exagerado.
Esse tipo de reação emocional pode indicar que há experiências dolorosas ainda não elaboradas.
Memórias minimizadas, episódios que você justificou ou bloqueou com o tempo podem continuar atuando por baixo do tapete, mantendo essa sensação de rancor sem uma causa claramente organizada na sua cabeça.
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