Hoje a pergunta com que nos confrontamos é simples: estamos nós realmente salvando o mundo? Não me parece que a resposta possa ser aquela que gostaríamos. O mundo só pode ser salvo se for outro, se esse outro mundo nascer em nós e nos fizer nascer nele.
Mas nem o mundo está sendo salvo nem ele nos salva enquanto seres de existência única e irrepetível. Alguns de nós estarão fazendo coisas que acreditam ser importantíssimas. Mas poucos terão a crença que estão mudando o nosso futuro. A maior parte de nós está apenas gerindo uma condição que sabemos torta, geneticamente modificada ao sabor de um enorme laboratório para o qual todos trabalhamos mesmo sem vencimento.
Se alguma coisa queremos mudar e parece que mudar é preciso, temos que enfrentar algumas perguntas. A primeira das quais é como estamos nós, biólogos, pensando a ciência biológica? Antes de sermos cientistas somos cidadãos críticos, capazes de questionar os pressupostos que nos são entregues como sendo «naturais». A verdade, colegas, é que estamos hoje perante uma natureza muito pouco natural.
E é aqui que o pecado da preguiça pode estar ganhando corpo. Uma subtil e silenciosa preguiça pode levar a abandonar a reflexão sobre o nosso próprio objecto de trabalho. Aos poucos cedemos ao comité de não mais colocarmos em causa quem somos, o que sabemos, o que fazemos. As últimas décadas tenderam a tecnicizar as ciências biológicas. De novo, insistem connosco em que as soluções virão de sofisticadas tecnologias e de que pouco vale questionarmos os desafios políticos e sociais do nosso tempo. À força de termos que sobreviver vamos aceitando encaixes, ofertas e arranjos. A ideia de que não vale a pena tentar uma outra utopia conduz à acomodação e ao conformismo intelectual.
A própria ideia de Ciência que nos parece isenta e acima de toda a suspeita é uma ideia tão exclusivista que pode ser entendida como uma ideia gulosa. Gulosa e glutona. Engorda não por comer mas por fazer dieta. E essa dieta consiste em ignorar outras sabedorias, outros sistemas de conhecimento.
Mia Couto, in ‘Pensatempos’
Tem gente que acha que “filme com animal” é sinônimo de história fofinha para ver…
Tem filme que a gente assiste para passar o tempo e tem filme que parece…
Dezembro na Netflix Brasil vem daquele jeito caótico que a gente gosta: você abre o…
Se o fim da humanidade virasse realidade amanhã, tem gente que sonharia com cidades vazias,…
Antes de virar estrela de franquia gigante e figurar entre as atrizes mais disputadas de…
Tem filme de terror que assusta pelo susto; O Poço faz outra coisa: ele te…