Deixar mensagens escritas sobre os seus últimos e dolorosos momentos é uma prática relativamente recente, visto que, antes do séc. 18, esses registros não era tão comuns. Naquela época, além de apenas uma minoria ser alfabetizada, tinha o conceito de que o ato de dar cabo à própria vida desonrava o suicida e a sua família.

Os motivos que levam uma pessoa a tomar essa decisão, entretanto, são sempre os mesmos, seja naquela época ou nos dias atuais. Os relatos dolorosos se assemelham e fazem crer que essas pessoas carregavam uma carga que para elas se tornara insuportável. As razões vão desde vergonha por algum ato impensado, com as quais a pessoa acha que não será capaz de conviver com o remorso, passando por doenças incuráveis e decepções amorosas até o sentimento de vazio existencial agravados pela depressão.

É comum que essas que são afetadas pela depressão anuncie seu desejo de morte com certa antecedência, porém também é comum que as pessoas próximas a elas demorem a perceber os sinais de alerta. É preciso estar atento sempre aos sinais e procurar urgentemente formas de ajudar.

Aqui separamos para você sete mensagens de despedida que algumas pessoas famosas deixaram antes de tirar a própria vida:

 

 

Leila Lopes

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A atriz começou a carreira aos 13 anos, em Porto Alegre (RS), e acumulou várias novelas globais. Foi em Renascer, de Benedito Ruy Barbosa, que ela estourou na pele da professora Lu. Depois, ela participou de Tropicaliente (1994) e O Rei do Gado (1996). Em 1997, Leila posou para a revista Playboy e, no ano passado, entrou para o elenco da produtora de filmes pornográficos Brasileirinhas, com Pecados e Tentações.

 

 

Leila Lopes foi achada morta após ingerir veneno de roedores. Ela deixou uma carta para a família explicando os motivos de sua morte. Na carta de despedida, Leila pedia as pessoas para não se entristecerem com sua partida, nem chorar, pois ela estava feliz.

Carta de Leila

“Eu não me suicidei, eu parti para junto de Deus. Fiquem cientes que não bebo e não uso drogas, eu decidi que já fiz tudo que podia fazer nessa vida. Tive uma vida linda, conheci o mundo, vivi em cidades maravilhosas, tive uma família digna e conceituada em Esteio, brilhei na minha carreira, ganhei muito dinheiro e ajudei muita gente com ele. Realmente não soube administrá-lo e fui ludibriada por pessoas de má fé várias vezes, mas sempre renasci como uma fênix que sou e sempre fiquei bem de novo. Aliás, eu nunca me importei com o ter. Bom, tem muito mais sobre a minha vida, isso é só para verem como não sou covarde não, fui uma guerreira, mas cansei. É preciso coragem para deixar esta vida. Saibam todos que tiverem conhecimento desse documento que não estou desistindo da vida, estou em busca de Deus. Não é por falta de dinheiro, pois com o que tenho posso morar aqui, em Floripa ou no Sul. Mas acontece que eu não quero mais morar em lugar nenhum. Eu não quero envelhecer e sofrer. Eu vi minha mãe sofrer até a morte e não quero isso para mim. Eu quero paz! Estou cansada, cansada de cabeça! Não aguento mais pensar, pagar contas, resolver problemas… Vocês dirão: Todos vivem!!! Mas eu decidi que posso parar com isso, ser feliz, porque sei que Deus me perdoará e me aceitará como uma filha bondosa e generosa que sempre fui.”

Kurt Cobain

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Nascido em Aberdeen, Wahshington no ano de 1967, Kurt ficou muito famoso por fazer parte da grande banda de rock chamada Nirvana. Nos anos 90, sua música inspirou uma grande geração do estilo musical chama grunge. Kurt era dependente de drogas, alcoólatra e consequentemente teve transtornos bipolares. Antes de cometer o suicídio com um tiro aos 27 anos, Cobain deixou uma carta para sua esposa que dizia o seguinte: “Frances e Courtney, eu estarei em seu altar. Por favor, vá em frente Courtney, a vida de Frances será melhor sem mim. Eu te amo. Eu te amo”

Carta de Kurt

Falo como um simplório homem com experiência que obviamente preferia ser uma criança castrada e reclamona. Este bilhete deve ser bastante fácil de entender. Todas as advertências das aulas de Introdução ao Punk Rock ao longo dos anos, desde minha apresentação à, digamos, ética envolvida na independência e o acolhimento de sua comunidade, se provaram verdadeiras. Eu não tenho sentido a excitação de ouvir, bem como criar música, juntamente com a leitura e a escrita, faz muitos anos. Eu me sinto culpado por essas coisas além do que posso expressar em palavras

Por exemplo, quando estamos atrás do palco e as luzes se apagam, e o ruído ensandecido da multidão começa, isso não me afeta do jeito que afetava Freddie Mercury, que parecia amar, se deliciar com o amor e adoração da multidão, que é algo que eu admiro e invejo totalmente. A verdade é que não consigo enganar vocês, nenhum de vocês. Simplesmente não é justo nem com vocês nem comigo. O pior crime que posso imaginar seria enganar as pessoas sendo falso e fingindo como se eu estivesse me divertindo 100%. Às vezes eu sinto como se eu tivesse que bater o cartão de ponto antes de subir ao palco. Eu tentei tudo ao meu alcance para gostar disso (e eu tento, por Deus, acreditem em mim, eu tento, mas não é o suficiente). Eu gosto do fato que eu e nós atingimos e divertimos um monte de gente. Devo ser um daqueles narcisistas que só dão valor as coisas quando elas se vão. Sou muito sensível. Preciso ficar um pouco dormente para ter de volta o entusiasmo que eu tinha quando criança.

Nas nossas últimas três turnês, eu tive um apreço muito maior por todas as pessoas que conheci pessoalmente e pelos fãs de nossa música, mas eu ainda não consigo superar a frustração, a culpa e a empatia que eu tenho por todos. Existem coisas boas dentro de todos nós. Eu acho que simplesmente amo demais as pessoas e isso me deixa muito triste. O pequeno, sensível, insatisfeito, pisciano, Jesus triste. “E por que você simplesmente não aproveita?” Eu não sei.

Eu tenho uma deusa como esposa que transpira ambição e empatia e uma filha que me lembra demais como eu costumava ser, cheia de amor e alegria, beijando cada pessoa que ela encontra porque todos são bons e ninguém a fará mal nenhum. E isso me apavora ao ponto de eu mal conseguir funcionar. Eu não posso suportar a ideia de Frances se tornar um triste, autodestrutivo, e mortal roqueiro, como eu virei.

Eu tive muito, muito mesmo, e eu sou grato por isso, mas desde os sete anos, passei a ter ódio de todos os humanos em geral. Apenas porque parece tão fácil para as pessoas que tem empatia se darem bem. Apenas porque eu amo e lamento demais pelas pessoas, eu acho.

Obrigado do fundo do meu ardente e nauseado estômago por suas cartas e preocupação nestes últimos anos. Eu sou um bebê errático e triste! Eu não tenho mais a paixão, e por isso lembre-se, é melhor queimar de vez do que se apagar aos poucos.

Paz, amor, empatia.

Kurt Cobain

Frances e Courtney, eu estarei em seus altares.
Por favor, siga em frente, Courtney, pela Frances.
Pela vida dela, que será muito mais feliz sem mim.
EU AMO VOCÊS, EU AMO VOCÊS!

Marilyn Monroe

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Aos 36 anos, no auge da sua beleza, Marilyn Monroe estava dependente das drogas, não conseguia dormir, tinha acabado de ser rejeitada pelo último amante, Robert Kennedy, e estava deprimida, apesar de ter conseguido um novo contrato de trabalho com a Fox.

Ironicamente, a mulher que o Mundo conhece como a deusa do amor estava também frígida e vivia sozinha, numa casa por mobilar que, segundo a polícia que encontrou o seu cadáver, “parecia um quarto de hotel barato”.

Na noite de 4 para 5 de Agosto de 1962, Marilyn Monroe, ou melhor, Norma Jean Mortenson, pôs fim a tudo com uma ‘overdose’ de comprimidos – embora a sua morte continue a alimentar toda a espécie de especulações.

Em trecho de um poema que leva o irônico título “Após um Ano de Análise”, Marilyn, no auge do sucesso, escreveu: “Socorro, socorro, socorro/Sinto que a vida chega mais perto quando tudo o que quero é morrer.” E indaga: “Como eu gostaria de estar morta – absolutamente não existente. Já não estou?”

Marilyn não deixou propriamente uma carta de despedida, mas, seus último escritos encontrados em papeis avulsos e no seu diário, dão conta que ela estava realmente muito deprimida e sem ânimo para viver.

“Por que eu sinto esta tortura? Ou por que é que eu me sinto menos humana do que os outros (sempre me senti como se, de alguma forma, eu fosse sub-humana… por que, por outras palavras, acho que sou pior do que os outros)? “Até mesmo fisicamente, tenho sempre a sensação de que há alguma coisa errada”

“Meu desejo é fraco, mas eu não aguento nada. Eu pareço louca, mas eu acho que estou enlouquecendo. É só que apareço em frente às câmeras e a minha concentração e tudo que eu estou tentando aprender me abandona. Depois eu sinto que eu não estou existindo na raça humana de jeito nenhum”.

Getúlio Vargas

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No dia 24 de agosto de 1954, o suicídio de Getúlio Vargas marcou a história do Brasil. No início daquele mês, uma tentativa de assassinato saiu errada. O alvo era o deputado e jornalista Carlos Lacerda, um dos maiores críticos do presidente. No entanto, no atentado da Rua Toneleiros, quem saiu morto foi um oficial da Aeronáutica que trabalhava também como segurança do jornalista.

Três integrantes da guarda presidencial de Getúlio foram apontados nas investigações. Isto fez com que os opositores de Getúlio, principalmente Lacerda, pedissem a renúncia do presidente. A crise política estava instaurada.

Durante a madrugada do dia 24, houve uma reunião com os ministros no Palácio do Catete, no qual foi decidido que Getúlio se afastaria do governo por três meses para dar lugar ao vice, Café Filho. Depois da reunião, Getúlio se recolheu ao seu aposento. Por volta das 8h35, o som de um tiro ecoou pelo palácio. Uma carta-testamento foi encontrada no quarto. “Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História”, encerra o documento.

Carta de Vargas

Deixo à sanha dos meus inimigos o legado da minha morte.

Levo o pesar de não haver podido fazer, por este bom e generoso povo brasileiro e principalmente pelos mais necessitados, todo o bem que pretendia.

A mentira, a calúnia, as mais torpes invencionices foram geradas pela malignidade de rancorosos e gratuitos inimigos numa publicidade dirigida, sistemática e escandalosa.

Acrescente-se a fraqueza de amigos que não me defenderam nas posições que ocupavam, a felonia de hipócritas e traidores a quem beneficiei com honras e mercês e a insensibilidade moral de sicários que entreguei à Justiça, contribuindo todos para criar um falso ambiente na opinião pública do país contra a minha pessoa.

Se a simples renúncia ao posto a que fui elevado pelo sufrágio do povo me permitisse viver esquecido e tranqüilo no chão da Pátria, de bom grado renunciaria. Mas tal renúncia daria apenas ensejo para, com mais fúria, perseguirem-me e humilharem. Querem destruir-me a qualquer preço. Tornei-me perigoso aos poderosos do dia e às castas privilegiadas. Velho e cansado, preferi ir prestar contas ao Senhor, não de crimes que não cometi, mas de poderosos interesses que contrariei, ora porque se opunham aos próprios interesses nacionais, ora porque exploravam, impiedosamente, aos pobres e aos humildes.

Só Deus sabe das minhas amarguras e sofrimentos. Que o sangue de um inocente sirva para aplacar a ira dos fariseus.

Agradeço aos que de perto ou de longe trouxeram-me o conforto de sua amizade.

A resposta do povo virá mais tarde…

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

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Poeta e novelista. Após infância e adolescência marcadas pela solidão e sofrimentos, em 1912 partiu para Paris para estudar Direito na Sorbonne, curso que jamais concluiria. Às dificuldades materiais, somaram-se as emocionais. Fernando Pessoa foi seu amigo e o único a ajudá-lo, havendo farta correspondência deste período entre ambos. Autor do sensacional “A Confissão de Lúcio” (1914). Aos 26 anos incompletos, sofreu uma crise moral e financeira, abandonou os estudos, brigou com o pai e passou a levar uma vida boêmia. Desesperado e deprimido, trancou-se em em seu quarto, no Hotel Nice, em Montmartre (Paris), vestiu um smoking, deitou-se e se envenenou com cinco frascos de estricnina. Conta-se que, obeso por natureza, seu corpo ficou monstruosamente inchado, não cabendo no caixão que para ele se encomendou. Antes de se matar, enviou poesias inéditas a Pessoa que apareceram em 1937, com o título de “Indícios de Oiro”.

CARTA DE DESPEDIDA DE MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO A FERNANDO PESSOA

“Meu querido Amigo.

A menos de um milagre na próxima segunda-feira, 3 (ou mesmo na véspera), o seu Mário de Sá-Carneiro tomará uma forte dose de estricnina e desaparecerá deste mundo. É assim tal e qual – mas custa-me tanto a escrever esta carta pelo ridículo que sempre encontrei nas «cartas de despedida»… Não vale a pena lastimar-me, meu querido Fernando: afinal tenho o que quero: o que tanto sempre quis – e eu, em verdade, já não fazia nada por aqui… Já dera o que tinha a dar. Eu não me mato por coisa nenhuma: eu mato-me porque me coloquei pelas circunstâncias – ou melhor: fui colocado por elas, numa áurea temeridade – numa situação para a qual, a meus olhos, não há outra saída. Antes assim. É a única maneira de fazer o que devo fazer. Vivo há quinze dias uma vida como sempre sonhei: tive tudo durante eles: realizada a parte sexual, enfim, da minha obra – vivido o histerismo do seu ópio, as luas zebradas, os mosqueiros roxos da sua Ilusão. Podia ser feliz mais tempo, tudo me corre, psicologicamente, às mil maravilhas, mas não tenho dinheiro. […]

31 de Março de 1916.”

Ian Curtis

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Ian Curtis fazia parte da banda Joy Division e morreu com apenas 23 anos de idade. Durante o mês de outubro de 1979, Ian estava sofrendo convulsões epiléticas e apagões durante o seus shows. Além do casamento de Ian ter afundado, as coisas pioraram ainda mais antes da primeira turnê americana do Joy Division. Durante uma estádia na casa do seu pai, onde infelizmente ele estava sozinho, Ian Curtis, vocalista da grande banda pós-punk inglesa Joy Division, se enforcou, entrando para o time de famosos que cometeram suicídio. Suas últimas palavras deixadas em uma nota foram: “Neste momento, eu gostaria de ser morto. Eu apenas não posso lidar com isso nunca mais.”

Carta de Ian Curtis

“Para não saturar, esfacelar os olhos e a memória, ocupo-a com mais um nome. Mas há sempre um que fito e recordo mais frequentemente: SUBLIMAÇÃO.”
“É terrível chegar à conclusão de que as leis, sob as quais temos regido a nossa forma de agir são falsas e infundamentadas.”
“Preciso de reduzir as probabilidades de me analisar, dos erros serem cometidos e das consequentes deslocações do pensamento para recantos deprimentes. Solicito o sono.”

Vincent Van Gogh 

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Era madrugada do dia 29 de julho de 1890 e Théo estava deitado ao lado do irmão no leito do hospital. Vincent fumava seu cachimbo tranquilamente e parecia bem, apesar de fraco. Dois dias antes, tinha disparado um tiro contra o próprio peito, que desviou e se alojou na virilha. O Dr. Gachet foi chamado às pressas, mas não conseguiu retirar a bala.

Assim que soube do “incidente”, Théo veio ao encontro do irmão, mas ele estava decidido a morrer. Por volta da 1h30 do dia 29 de julho, Vincent Van Gogh murmura suas últimas palavras: “A tristeza durará para sempre, quero ir embora”, e morre.

Van Gogh guardava consigo uma carta, a última das Cartas a Théo:

eu caro irmão,

Obrigado por sua gentil carta e pela nota de cinquenta francos que ela continha. Já que as coisas vão bem, o que é o principal, por que insistiria eu em coisas de menor importância? Por Deus! Provavelmente se passará muito tempo antes que se possa conversar de negócios com a cabeça mais descansada.

Os outros pintores, independente do que pensem, instintivamente mantêm-se à distância das discussões sobre o comércio atual.

Pois é, realmente só podemos falar através de nossos quadros. Contudo, meu caro irmão, existe isto que eu sempre lhe disse e novamente voltarei a dizer com toda a gravidade resultante dos esforços de pensamento assiduamente orientado a tentar fazer o bem tanto quanto possível – volto a dizer-lhe novamente que sempre o considerarei como alguém que é mais que um simples mercador de Corots, que por meu intermédio participa da própria produção de certas telas, que mesmo na derrocada conserva sua calma.

Pois assim é, e isto é tudo, ou pelo menos o principal que eu tenho a lhe dizer num momento de crise relativa. Num momento em que as coisas estão muito tensas entre marchands de quadros de artistas mortos e de artistas vivos.

Pois bem, em meu próprio trabalho arrisco a vida e nele minha razão arruinou-se em parte – bom -, mas pelo quanto eu saiba você não está entre os mercadores de homens, e você pode tomar partido, eu acho, agindo realmente com humanidade, mas, o que é que você quer?

 







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