Por Silvia Malamud

Muito se ouve falar sobre as vítimas de abusos emocionais, sobre pais abusadores, filhos, irmãos, parcerias afetivas abusivas e sobre as mesmas situações que costumam ocorrer nos trabalhos e em grupos sociais, mas muito pouco ou praticamente nada se fala sobre as questões abusivas que muitos idosos passam em suas próprias famílias.

Crianças, assim como todos nós, estão em busca de prazer e como ainda são pequenas, necessitam ser instruídas sobre limites viáveis para entenderem que na vida, muitas vezes não será possível terem tudo aquilo que de imediato desejam. Se os pais não forem devidamente esclarecidos neste sentido, certamente abrirão portas onde sequencialmente poderão passar por manipulações abusivas por parte dos filhos com o intuito de sempre de conseguirem o que bem quiserem deles.

Numa sociedade narcisista, o fato dos pais ilimitadamente buscarem satisfazer as demandas dos filhos, num primeiro momento também pode satisfazê-los, mas na sequência dos tempos, essas atitudes fatalmente se revelarão como sendo o pior dos mundos. Estes mesmos pais cada vez mais serão exigidos até que numa idade avançada possam sofrer de modo drástico com a evolução do modelo de autocentramento que eles próprios ofereceram aos filhos.

Ainda independente do modo de como que os filhos possam ter sido criados, vários deles quando adultos facilmente se esquecem de toda a atenção desvelada pelos pais durante grande parte de suas vidas. Para muitos, pais velhos atrapalham.

Mesmo pais que foram abusivos e que cometeram erros gravíssimos em relação aos seus filhos e que até o final dos tempos não mudam os seus estados hipnóticos de funcionamento, ainda assim, são seres humanos que quando alcançarem uma idade avançada necessitarão de cuidados.

Existem casos em que determinados filhos acuam seus pais de tal modo ao longo da vida que quando estes vão ficando mais velhos e indefesos, sequer percebem que eles estão ficando cada vez mais frágeis continuando de modo drástico a obrigá-los a dar de tudo o que possuem e que construíram ao longo de uma vida, para eles. Se acham eternos merecedores, e os pais, a essa altura, por medo e para não terem mais problemas acabam cedendo. São filhos narcisistas que vão ao egoísmo extremo a ponto de conseguirem destruir seus próprios pais, emocional e financeiramente, um saco sem fundos em todas as áreas da vida.
Quando estes cedem também por não suportarem as ameaças de desvínculo e por que efetivamente estão ficando mais dependentes pela idade, as crises de violência moral por alguns momentos são evitadas, embora os traumas e danos provocados são inomináveis.

Outros idosos são literalmente abandonados em asilos sem questionamento algum, se acaso gostariam ou não de usufruir a essa altura da vida do calor de se sentirem em casa ao lado da família, e mesmo se isso não for possível por inúmeros motivos, sequer são questionados se prefeririam serem cuidados em suas próprias casas.
O que mais se vê nas situações abusivas em relação aos idosos é o abandono efetivo, as ameaças de abandono misturadas à exigências indevidas, violência moral e, não poucas vezes, física.

Desejo que todos nós possamos honrar as nossas existências com a sabedoria e o conhecimento que apenas o tempo pode trazer, que sejamos capazes de nos tornarmos velhos e sábios e que principalmente possamos honrar com dignidade os idosos que estão entre nós, bem como àqueles que já se foram.

Quanto mais despertos, melhor!

 

Sílvia Malamud é psicóloga, autora dos livros Sequestradores de Almas e Projeto Secreto Universos.

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