Pesquisa aponta que crianças de 0 a 12 anos passam em média três horas e 53 minutos por dia usando smartphone; educadora parental Stella Azulay orienta pais a fortalecer vínculos e conexão

No próximo mês, 47 milhões crianças e adolescentes deixam os bancos escolares do ensino básico para aproveitarem as férias de julho no Brasil, quase uma população inteira da Argentina ou da Espanha. A grande maioria dessas crianças com idade de 0 a 12 anos, 79%, terá um smartphone à sua disposição e vai passar, em média, três horas e 53 minutos por dia utilizando o aparelho, segundo o Panorama Mobile Time/Opinion Box – Crianças e smartphones no Brasil. Conciliar crianças em casa e uso excessivo de telas é o grande desafio das famílias.

A pesquisa Panorama Mobile Time, realizada no fim do ano passado, mostra que 44% das crianças brasileiras de 0 a 12 anos têm seu próprio smartphone e 35% utilizam o aparelho dos pais. O Youtube é o aplicativo mais acessado, seguido de Whatsapp e Youtube Kids, aponta o estudo. O uso do smartphone aumenta conforme a idade das crianças, mas engana-se quem pensa que os menorzinhos estão fora da estatística.

De acordo o Panorama, 12% das crianças de 0 a 3 anos têm seu próprio smartphone e 40% usam o dos pais. A proporção muda nas faixas etárias seguintes. De 4 a 6 anos, 32% possuem o telefone com internet e 53% usam o dos pais. De 7 a 9 anos, 46% têm o seu aparelho e 43% usam o dos pais. Dos 10 aos 12 anos, 77% possuem smartphone e 17% usam o dos pais.

O tempo médio de uso diário começa em duas horas e 56 minutos por crianças de 0 a 3 anos de idade, conforme o estudo. Passa para três horas e 17 minutos na faixa etária entre 4 a 6 anos e para três horas e 29 minutos pelos que têm de 7 a 9 anos, até chegar a quatro horas e 46 minutos de uso pelas crianças de 10 a 12 anos. No levantamento, os pais explicam que a principal razão para dar ou emprestar um smartphone ao filho é entretê-lo. A questão é que o entretenimento pode trazer prejuízos ao desenvolvimento infantil.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que crianças menores de 2 anos não tenham nenhum contato com telas, nem mesmo televisores. A partir de 2 anos a TV pode fazer parte da rotina dos pequenos, por no máximo uma hora por dia. Ainda segundo a OMS, o celular só deve entrar na vida das crianças a partir dos 8 anos, com muita precaução. Os próprios pais reconhecem que o smartphone está ocupando tempo demais na infância dos filhos, 55% deles acreditam que as crianças passam mais tempo do que deveriam usando o aparelho, conforme o Panorama Mobile Time.

A lista de consequências pelo uso excessivo de tela é grande. Pesquisas mostram que a superexposição a eletrônicos pode causar déficit de atenção, atrasos cognitivos, distúrbios de aprendizado, aumento de impulsividade, diminuição da habilidade de regular emoções, provocando ansiedade, depressão e agressividade. Também pode gerar dependência digital, transtornos de alimentação e de imagem corporal, cyberbullying, além de ampliar o risco de abusos sexuais e pedofilia, problemas visuais, miopia, problemas auditivos e de postura.

Para evitar que as férias se tornem um problema de saúde física e mental, a educadora parental e jornalista Stella Azulay, diretora da JUNTOS Educação Parental, orienta os pais a buscarem alternativas de diversão com as crianças, que podem envolver qualquer membro da família. “Conectar-se com o filho é a única forma de os pais realmente estabelecerem bom diálogo e influência positiva. Essa conexão transforma a relação da família numa relação saudável, baseada em comunicação efetiva”, diz.

Segundo Stella, as férias são um excelente período para os pais conhecerem melhor seus filhos, criarem espaços de diálogo, de compartilhamento de emoções e experiências. “É preciso aproveitar as férias para aprimorar a comunicação e fortalecer o vínculo, abrir o caminho para que os filhos se sintam à vontade para relacionar-se com os pais e, amanhã, quando se tornarem adolescentes, não se fecharem no quarto, distanciando-se da família”, comenta.

Stella é autora de dois livros, “Como educar se não sei me comunicar” e “Conte sua história para seu filho”, que justamente propõe uma atividade de conexão e fortalecimento de vínculos familiares. O livro caixinha “Conte sua história para seu filho” traz 100 cartas, cada uma com uma pergunta sobre uma passagem da vida dos pais, na infância, adolescência e juventude, evocando lembranças como a emoção mais forte, a roupa mais marcante e a pior vergonha.

“É uma ótima atividade para as férias em família, para criar vínculos com os filhos e trazer momentos fora das telas. A brincadeira traz lembranças, promove conexão e criatividade. Também permite aprendizados, troca de conhecimento e ensinamentos, como superação e resiliência. É uma brincadeira potente e poderosa, que possibilita à família criar momentos e lembranças valiosas, distante da internet”, afirma a educadora parental. Ela explica que dividir histórias pessoais tem um grande impacto nas mensagens de vida para as crianças.

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Sobre Stella Azulay

Jornalista e educadora parental com especialização em Análise de Perfil e Neurociência Comportamental.

Escritora e palestrante. Analista de perfil formada pela Success Tools; extensão em Neurociência Comportamental pela Faculdade Belas Artes; coach de vida e carreira pela Sociedade Brasileira de Coaching; educadora parental pela Positive Discipline Association. Adotou o tema Educação como missão. É mentora e conselheira de pais e adolescentes. Em 2021 fundou e dirige a JUNTOS Educação Parental.

É mãe de quatro filhos. Lançou seu primeiro livro em Junho de 2022: ‘Como educar se não sei me comunicar’ e também seu primeiro livro caixinha ‘Conte sua história para seu filho’. Jornalista pela Fundação Cásper Líbero, trabalhou como repórter em emissoras como SBT e TV Record e foi correspondente em Jerusalém/Israel pelo SBT, onde morou por quatro anos.







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