Com a chegada de Natal e Ano Novo, começam também os planos de celebrar as festas de fim de ano – que serão as primeiras em meio à pandemia de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).
Especialistas ouvidos pelo G1 foram unânimes em aconselhar festas virtuais ou, se presenciais, apenas com pessoas que moram na mesma casa.
1 – Como se reunir com segurança?
O ideal é que as reuniões com pessoas de núcleos diferentes da família e com amigos sejam virtuais, recomendam os três infectologistas ouvidos pelo G1: Rosana Richtmann e Jamal Suleiman, do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, e Raquel Stucchi, da Unicamp.
“Se não quer correr risco ou colocar as pessoas que você ama em risco, não faça reunião de Natal entre a família esse ano”, diz Richtmann.
Outra recomendação é se reunir apenas com pessoas que já fazem parte do grupo de convívio, dizem os médicos, ou seja: aquelas que já vivem na mesma casa.
“Natal é uma festa de família, e o Ano Novo de forma geral é uma festa de amigos. Qualquer movimentação no sentido de aglomerar implica em um risco muito alto”, concorda Suleiman.
“O núcleo que já está em contato todo dia representa, obviamente, um risco menor. Esse núcleo já vai estar familiarizado. Se você vai adicionar alguém com quem não tem esse contato diário, vai adicionar risco. Não tem outra coisa – é risco, sempre”, diz Suleiman.
O Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) tem a mesma recomendação: comemorar virtualmente ou com pessoas de sua própria casa – que estejam constantemente adotando medidas para reduzir a disseminação da Covid-19 – apresenta o menor risco de propagação.
2 – Quem deve evitar ir às festas?
Caso decida fazer uma festa presencial mesmo com os riscos, Richtmann lembra que “não existe encontro de Natal [presencial] sem risco”. O que se pode fazer é minimizar esse risco.
Idosos e pessoas com doenças crônicas descompensadas devem evitar ir às festas, recomenda Raquel Stucchi, da Unicamp. A mesma recomendação vale para quem tiver contato frequente com esse tipo de pessoa.
“Para quem tem uma doença crônica, mas compensada, o risco é maior do que [para] quem não tem, mas não tão grande quanto os descompensados. Essas pessoas deveriam se poupar – o que significa que as pessoas que têm contato com idosos e pessoas com doenças crônicas descompensadas não devem expor essas pessoas ao contato de muitas pessoas”, diz Stucchi.
Jamal Suleiman, do Emílio Ribas, lembra que idosos, por exemplo, podem ser expostos à Covid-19 por seus cuidadores.
“Uma festa de fim de ano é muito parecida com isso – vai incluir nesse ambiente pessoas que estão vindo de fora. Obviamente, se a pessoa tiver algum sintoma que possa estar relacionado à Covid, esse é para não sair de casa em hipótese alguma. Mas vai ter pessoas que são assintomáticas – vindo para uma celebração em que elas vão tirar a máscara”, lembra.
Além das pessoas com sintomas, quem teve contato com algum caso confirmado de Covid-19 também deve ficar longe da festa e cumprir uma quarentena de duas semanas.
Pessoas que estejam fazendo tratamentos que suprimem o sistema imune (imunosupressores) também não devem participar.
Por último, Stucchi lembra que mesmo jovens podem ter casos graves da doença e morrer – principalmente se forem obesos.
“Ninguém sabe quem terá quadro grave ou não, mesmo jovem. A obesidade é um fator de risco muito importante. Mesmo jovem, se for obeso, se adoecer, preocupa demais. Tem muita chance de precisar ir pro respirador, de complicar”, afirma.
“[O ideal é que] as reuniões sejam virtuais, para a gente poder comemorar o Natal do ano que vem”, diz a médica.
3 – Que fatores aumentam o risco de transmitir a doença?
O Centro de Controle de Doenças dos EUA aponta vários elementos que podem aumentar o risco de disseminar a Covid-19 em reuniões presenciais. Eles são:
Alta transmissão comunitária: estar em um local com níveis altos ou crescentes de casos de Covid-19 – ou se reunir com pessoas que estiveram neles – aumenta o risco de pegar a doença. A Fiocruz relata uma tendência de aumento de casos em todo o território nacional.
Exposição durante a viagem: aeroportos, estações de ônibus, estações de trem, transporte público, postos de gasolina e paradas de descanso são todos lugares onde os viajantes podem ser expostos ao vírus no ar e em superfícies.
Local da festa: reuniões internas, especialmente em locais com pouca ventilação, representam mais risco do que reuniões ao ar livre (veja detalhes mais abaixo).
Duração da festa: encontros mais longos representam mais risco do que reuniões mais curtas.
Quantidade de pessoas: O CDC não tem um limite nem recomenda um número específico de pessoas que podem se reunir. O tamanho do encontro deve ser determinado pela possibilidade de os presentes ficarem a cerca de 1,80m uns dos outros, segundo o órgão.
Comportamento das pessoas antes da festa: pessoas que não seguem as regras de distanciamento social, uso de máscaras e lavagem de mãos, além de outros comportamentos de prevenção, oferecem mais riscos às outras do que as que seguem.
Comportamento das pessoas durante a festa: reuniões que seguem as medidas preventivas oferecem menos risco do que as que não seguem (veja detalhes mais abaixo).
Em meados de novembro, o Ministério da Saúde também recomendou, no Twitter, o isolamento social e a adesão às medidas de proteção individual como forma de conter o novo coronavírus. A publicação, entretanto, foi apagada.
Na semana passada, durante coletiva em Genebra, a líder técnica da Organização Mundial de Saúde para a Covid-19, Maria van Kerkhove, disse que a “aposta mais segura” em alguns casos era não ter reuniões familiares no Natal. Na segunda-feira (30), a entidade disse que o Brasil “precisa levar muito, muito a sério” a alta nos casos da doença.
Até as 13h desta terça (1°), o país tinha 173.229 mortes confirmadas pela Covid-19, o segundo maior número do mundo.
4 – Qual o lugar ideal para as reuniões?
Se decidir fazer uma reunião presencial, uma forma de minimizar riscos é fazer a festa em lugares abertos – principalmente se envolver pessoas de fora do núcleo familiar.
O CDC recomenda que, mesmo nesses locais, os convidados usem máscaras quando não estiverem comendo ou bebendo e que mantenham a distância mínima de 1,80 m uns dos outros.
“Nada de ter aquela mesa da sala de jantar que é fechada e que não tem janela. Tem que ser em lugar aberto: terraço, quintal. Se for em apartamento, abra todas as janelas”, aconselha Raquel Stucchi.
Rosana Richtmann concorda: “se possível, fazer em lugar aberto. Se houver uma área no prédio onde consiga fazer a reunião, é muito melhor. Não pode colocar dez pessoas em uma sala em que cabem 6, não vai conseguir nunca o distanciamento”, diz.
A médica também sugere adiar a comemoração se o adiamento permitir que a festa seja feita em lugar ventilado: por exemplo, substituindo a ceia da meia-noite no dia 24 para um almoço num ambiente aberto no dia 25.
Jamal Suleiman alerta, por outro lado, que o risco existe mesmo em locais abertos.
“Ambiente aberto não protege a pessoa. O risco é quando você aglomera e tira a máscara e faz contato”, alerta. “Mesmo porque não é uma festa em que você vai ficar de máscara: você vai tirar a máscara, abraçar as pessoas – senão, qual o motivo de fazer uma festa assim?”, questiona o médico.
5 – Em festas presenciais, quais precauções adotar?
Os especialistas reiteram que as precauções podem diminuir, mas não eliminam o risco.
As medidas preventivas são as que já conhecemos: manter o distanciamento, usar máscaras e higienizar as mãos. Além disso, há algumas estratégias específicas para o fim do ano: não cantar é uma delas.
“Nada de cantoria – quanto mais alto você fala ou canta, maior o risco da disseminação de partículas. Algumas famílias têm tradição de canto, coral; nada disso”, alerta Richtmann.
Na hora da comida, a recomendação é dividir os núcleos familiares por mesa – ou seja, as pessoas que convivem no dia a dia se sentam juntas.
“Quando for se alimentar, atenção máxima ao distanciamento – porque não vai conseguir usar máscara”, alerta a médica.
E, para o Ano Novo, um alerta a mais: Richtmann afirma já esperar um aumento de casos para a primeira quinzena de janeiro, porque “a tendência para o réveillon são adultos jovens marcando e fazendo festa, alugando uma casa num grupo de 25 pessoas”, diz.
“O que tem que levar em conta é que o cenário epidemiológico que vinha em queda e talvez tivesse condições menos restritivas não é o que está acontecendo [agora]. É um momento de não colocar em risco a vida”.
Raquel Stucchi enfatiza: “cada um de nos é responsável por como a curva da pandemia vai andar nas próximas semanas aqui no Brasil”.
“Às vezes as pessoas que têm o risco de adoecimento mais grave estão cumprindo [as restrições], mas aí o neto, o filho que foi na confraternização com os amigos, com dez amigos, passa duas horas com a avó. É só isso o que precisava”, lembra.
As informações são do G1. / Foto: Oli Scarff / AFP