Niall Ferguson é um dos mais renomados historiadores da Grã-Bretanha. Com pós-doutorado em História, foi considerado pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo. Especialista em economia, mercado financeiro e história econômica, lecionou em instituições como a Universidade de Harvard e a London School of Economics.

Qual a diferença entre um populista brasileiro e um europeu? E entre um populista de esquerda e um de direita? Niall Ferguson espanta o espectador ao dissecar diversas características fundamentais do populismo.

O historiador também aponta casos do passado e do presente e indica leituras importantes para compreender (e evitar) esta forma de governo.

 

Assista ao vídeo (legendado) ou leia a transcrição logo abaixo:

O populismo é oferecido em dois sabores diferentes. Existe o de direita e o de esquerda. Portanto, chocolate e framboesa — essa é a escolha. Eles diferem em termos políticos, mas são semelhantes no que tange às técnicas e à retórica demagoga que utilizam.

A boa notícia é que o populismo quase sempre acaba consumindo a si mesmo, porque suas políticas simplesmente não entregam o que prometem. O populista diz: “Somente eu, que tenho o braço forte, posso resolver seus problemas”. E eles nunca resolvem. Na verdade eles sempre tornam os problemas um pouco piores. O populista diz “esses neoliberais são corruptos”, mas então se revelam muito mais corruptos. Então o padrão é familiar: os populistas conseguem lançar mão desse discurso, ganham uma eleição e tentam mudar a Constituição, pois caso contrário eles perderiam. Na pior das hipóteses você acaba igual à Venezuela. Na melhor das hipóteses, faz como a Argentina e se livra deles.

Portanto, acho que sabemos a partir da experiência sul-americana que o populismo pode dar muito errado, mas que tem cura. O mais importante é não deixar que eles alterem a Constituição.

Não acho que a ameaça que muitos acadêmicos estadunidenses veem em Donald Trump seja remotamente tão grave quanto eles dizem. Não acho que ele vá se tornar um tirano. É possível que ele não se reeleja. Caso os democratas recuperem a maioria no Senado no próximo ano é quase certo que ele sofrerá um impeachment.

Não vejo nenhum indício de um plano sistemático para sabotar a Constituição. Ao meu ver, ela está funcionando para conter um demagogo exatamente como os Pais Fundadores pretendiam. O incrível é que os Pais Fundadores esperavam que alguém como Trump se tornasse presidente. Eles tinham certeza. Alexander Hamilton escreveu sobre isso, quase prevendo o futuro. Eles sabiam que o seu sistema geraria alguns demagogos, alguns charlatões que chegariam a ser presidentes, e por isso desenvolveram o sistema prevendo essa eventualidade.

Se você está mesmo preocupado, existe uma boa maneira para testar essa hipótese. Pode ser que alguns de vocês tenham amigos ou parentes nos EUA. Talvez eles sejam professores de Yale e estejam surtando. Há dois livros excelentes: um de Sinclair Lewis, chamado “It Can1t Happen Here”, e outro de Philip Roth chamado “Complô contra a América”. Duas maravilhosas obras de ficção que imaginam, um fascismo estadunidense. Então leia esses livros e faça o teste: “Os tempos de hoje são como esses livros?” . Até agora, certamente não.

 

Via Fronteira do Pensamento

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