Ele caminhava com a filha na praia, onde estavam de férias, e catavam pedras. O pai estava admirado com a perfeição daquelas pequenas pedras alisadas e desenhadas pelo mar, que desbastava os desníveis, dando-lhes uma geometria quase exata. A filha resolveu então que eles deveriam procurar uma pedra bem bonita para levar para a mãe, que ficara em casa cuidando do filho mais novo.

Logo depois, o pai acreditava ter encontrado a pedra ideal, redonda, lisa, branca com listras marrons, numa uniformidade tão grande que parecia uma obra-prima de algum engenheiro ou artista plástico.

Orgulhoso por tê-la encontrado, ele a mostrou a filha:

>

A menina olhou a pedra com ar de perito, segurou-a na mão e respondeu:

>, mostrando outra pedra, toda manchada e torta, com cantos, fissuras e até um pedaço faltando.

>

>, respondeu a garota, colocando a pedra torta na mão do pai.

Ele parou por um instante, olhou bem para a pedra e concordou com a filha, pois realmente se destacava das demais.

De mãos dadas, eles caminharam de volta, com a filha cantarolando, alegre pelo presente que estava levando para a mãe, e o pai pensativo por causa da lição de vida que acabava de receber da filha. “Sim, especial como a mamãe”, refletia ele, conscientizando-se mais uma vez de que sua esposa realmente era alguém muito especial e que sua beleza não estava no padronizado, nem no conforme, mas em tudo aquilo que a destacava, que a tornava singular e única, exatamente em sua tortuosidade, em suas marcas, manchas, fissuras e cicatrizes e mesmo nos “cantos quebrados” que lhe faltam. Conformidade e simetria nos tornam um entre muitos, sem graça e sem tempero. O que nos torna belo é nossa imperfeição, já que é exatamente ela que torna alguém especial, como aquela pedra que, sim, a filha tinha razão: era tão especial como sua mãe.







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