Por Alfredo Carneiro

“Quando percebemos que enganamos a nós mesmos, que estamos dormindo e que nossa casa está em chamas, sempre, permanentemente em chamas, e que é apenas por acaso que o fogo não atingiu nosso quarto neste exato momento, quando percebemos isso, vamos querer fazer esforços para acordar e não vamos esperar nenhuma recompensa especial”.

P. D. Ouspensky

A frase acima, do psicólogo e filósofo russo Piotr Ouspensky, refere-se principalmente aos pensamentos negativos e ao nosso eterno estado de sonolência. Eu não tenho certeza se os pensamentos positivos têm algum efeito magnético, como muitos acreditam, já os pensamentos negativos, esses sim, têm o mesmo efeito em nossa mente que um incêndio em uma casa. Através deles definhamos, ficamos deprimimos, tomamos atitudes ruins e adoecemos. Qualquer um com alguma experiência de vida reconhece isso. O problema maior é que estamos dormindo, pois vivemos em um estado de sonolência guiados pelo hábito e não percebemos o grande mal que nos cerca. Então, acordar é a primeira coisa a ser feita.

Pensamentos ruins são como chamas e demônios
Pensamentos ruins são constantes em nossa vida. E na maioria das vezes eles tomam conta de nosso dia como uma espécie de demônio que nos acompanha de forma despercebida. Como no genial conto The Yattering and Jack do escritor inglês Clive Barker, onde o Yattering era um demônio invisível enviado para infernizar vida de Jack, da mesma forma os pensamentos ruins nos acompanham diariamente. E normalmente não tomamos atitude alguma a não ser nos entregarmos passivamente ao desespero, ao ódio, ao ressentimento e à amargura.
O que acontece com a maioria das pessoas é que elas simplesmente se deixam consumir. Possuem a falsa ideia de que não podem fazer nada. Ficam agarradas de forma inconsciente à preconceitos, condicionamentos culturais, lembranças ruins, arrogância, medo e outras infecções mentais que obscurecem a consciência como uma fumaça negra. Assim, por mais absurdo que pareça, quem sofre por causa dessas coisas costuma permanecer neste estado devido ao puro e simples hábito. E é justamente esse hábito irrefletido que Oupensky chama de sonolência.

Devemos traçar um plano de fuga
O que Oupensky propõe é que acordemos. Devemos acordar o mais rápido possível para que o incêndio não nos destrua. Jack, o homem que era assediado pelo demônio Yattering, percebe o mal que vivia ao seu lado. Assim, ele traça um plano astuto para que o demônio se torne visível e perca seus poderes. Nada mais importava para Jack do que conseguir dominar aquele demônio. Da mesma forma, quando percebemos um incêndio, nada mais importa do que tomar uma atitude imediata, seja fugir ou controlar o fogo.

Essa percepção de urgência é uma condição fundamental para uma vida plena. Esse passo inicial, ou essa clara percepção de nossa condição mental, faz parte de um complexo sistema criado por Gurdjieff e Oupensky, porém, independente deste sistema, o mais importante é perceber que nossa casa está em chamas. Somente a partir desse momento quando acordamos por breves instantes é que podemos pensar o que fazer. Os caminhos que escolhemos para resolver o problema não devem ter em vista recompensa alguma, a não ser a alegria de uma mente lúcida e saudável. Caso contrário, podem ser apenas mais uma armadilha dos pensamentos medíocres que nos mantêm adormecidos em meio ao fogo.

Autor: Alfredo Carneiro
Editor do netmundi.org







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