Aos poucos, a ciência foi derrubando cada um dos deuses e demônios responsáveis pelos fenômenos até então desconhecidos e inexplicáveis. Mas aquilo que ainda hoje não se consegue formular a partir de unidades já aceitas e compreendidas por nossa limitada biologia continua sendo negado ou reservado a um campo “místico” do qual a ciência arrogantemente se distancia.

A consciência é um dos grandes exemplos da limitação das leis existentes: é um fenômeno que nenhuma teoria reducionista justifica. Nas últimas décadas, passamos a conhecer muito melhor o funcionamento do cérebro e o que acontece quando pensamos, desejamos ou sentimos, mas nenhuma dessas descobertas desconstrói o mistério da experiência subjetiva da consciência. Muitos acreditam que a uma compreensão melhor do universo exige a ampliação da lista de grandezas fundamentais – como a massa e o tempo. Não poderia a consciência ser mais uma delas – já que não conseguimos compreendê-la a partir de conceitos já conhecidos e dificilmente aceitá-la como mero produto da matéria, ou seja, de um conjunto de neurônios mergulhados em substâncias químicas?

Depois de estudar diversos campos da física – incluindo experiência no acelerador de partículas de CERN, na Suíça – e de se tornar um dos maiores divulgadores no Brasil da física quântica, o curitibano Gabriel Guerrer se lançou ao desafio de investigar esse mistério cientificamente. Seu projeto de pós-doutorado no Instituto de Psicologia da USP, em parceria com o Instituto de Física, propõe testar, em uma experiência inédita no Brasil, as relações da consciência com a matéria.

“Se o cérebro é consciência e é descrito pela física clássica, as trocas de informação entre seres humanos devem ser mediadas apenas por ondas sonoras, eletromagnéticas e vibrações”, explica. No entanto, em seus cursos livres de física quântica ele vem colecionando experiências narradas pelo público que sugerem que as limitações da física clássica não são suficientes para explicar alguns fenômenos da consciência – como a telepatia, que já possui uma grande amplitude de dados coletados em laboratório que confirmam essa habilidade da mente.

O projeto de Gabriel consiste em reproduzir em laboratório, com algumas melhorias, os experimentos conduzidos pelo professor Dean Radin, do Institute of Noetic Sciences (IONS), nos Estados Unidos. O cientista americano elaborou uma forma de verificar a influência da mente sobre a matéria: convocou voluntários para tentar controlar ondas de luz. Sua conclusão, detalhada em três artigos, foi que não todos, mas alguns indivíduos – aqueles habituados a meditar e alguns músicos – têm a capacidade de influenciar a matéria a distância.

A versão brasileira da experiência, aprimorada e com respaldo científico de uma grande universidade, seria um importante passo da ciência na confirmação ou na refutação da controversa teoria de que a consciência seria um “campo de força fundamental”. Nessa visão, o cérebro seria não o gerador, mas uma espécie de receptor da consciência.

Para a investigar a questão, no entanto, são necessários alguns equipamentos cujo financiamento foi negado por órgãos brasileiros de fomento à pesquisa sob a justificativa de não de enquadrar em suas prioridades. Para não desistir do projeto, Gabriel está contando com o apoio do público por meio de uma campanha de crowfunding. Precisa arrecadar o valor mínimo de R$ 48 mil até o final do mês e já tem cerca de metade desse valor.

O financiamento coletivo, diante da escassez de verba pública para a cultura e a ciência, é muitas vezes a única forma de viabilizar importantes projetos científicos e culturais. Assista ao vídeo da campanha de Gabriel e saiba como pode colaborar com o projeto.







Um espaço destinado a registrar e difundir o pensar dos nossos dias.