Saramago costumava dizer que o destino tem que dar muitos rodeios antes de chegar a qualquer parte. Ou seja, a vida tem seus próprios caminhos, coisas que não controlamos, suas ironias, suas voltas, de modo que sempre haverá o inesperado e dificuldades para enfrentar. Sempre haverá desilusões, quedas e ultrapassagens. No entanto, ainda que os momentos de crise sejam horríveis, eles podem significar um despertar, pois como diz Sean (Robin Williams) no filme Gênio Indomável: “As crises nos acordam para as coisas boas que não percebemos”.

Não há como escapar, todos nós um dia passaremos por um momento que colocará o nosso emocional no chão, a mente perturbada, cercados de desilusão e desespero. Não há como escapar porque “A vida não te dá traves de proteção” e a dor e o sofrimento são inerentes à vida, assim como o amor e a alegria.

Embora não haja como escapar, no meio da dor parece que percebemos quem somos de fato e o que queremos da vida. Sem pressões externas, sem a sociedade, é apenas o eu e o mim dialogando e, assim, conseguimos enxergar sem máscaras a constituição do nosso ser e o que ele grita desesperadamente para fazermos. Por isso, as crises nos acordam para o que não percebemos, porque elas nos acordam da vida, muitas vezes, no controle remoto, fazendo-nos enxergar aquilo que na trivialidade do cotidiano deixamos passar, enquanto fingimos estar tudo bem.

Como disse, ninguém quer sofrer e não acredito que fomos feitos para isso. Todavia, nos momentos de tensão surgem coisas maravilhosas, a meu ver, porque nesses momentos permitimos estar mais próximos do que realmente somos. Dessa maneira, as crises podem nos levar a um processo de autoconhecimento e, por conseguinte, de maior felicidade, já que ninguém é verdadeiramente feliz sendo um forasteiro de si próprio.

As crises nos mostram que podemos mudar, que não devemos nos acostumar, que há sempre algo a fazer com o que a vida fez conosco. Da mesma forma que nos faz perceber o que realmente nos faz feliz, nos mostra que devemos valorizar as pessoas que em momento algum largam a nossa mão, e faz com que o nosso olhar possua mais doçura para enxergar as belezas que explodem aos nossos olhos, mas não somos capazes de perceber.

Rubem Alves certa feita disse que foram as desilusões que o levaram a ultrapassagens, isto é, sem as desilusões que sofrera, ele jamais seria o Rubem que conhecemos. Concordo plenamente com ele, pois sei que sem as minhas crises, eu jamais seria quem sou hoje. Sei também o quão doloroso é esse processo, mas sei que de muitas dores vem a alegria, como a mulher que sente a dor do parto, mas se regozija com a beleza da vida. As nossas crises são como um parto. É necessário enfrentá-las se quisermos renascer, já que lembrando mais uma vez Rubem Alves: “Não haverá borboletas se a vida não passar por longas e silenciosas metamorfoses”.







Poderia dizer o que faço, onde moro; mas, sinceramente, acho clichê. Meus textos falam muito mais sobre mim. O que posso dizer é que sou um cara simples. Talvez até demais. Um sonhador? Com certeza. Mais que isso. Um caso perdido de poesia ou apenas um menestrel caminhando pelas ruas solitárias da vida.