Alguns filmes não pedem compreensão, apenas que a gente ria das piores decisões possíveis. É esse o caso de Antes Só do que Mal Casado, comédia escrachada dos irmãos Farrelly que está disponível na Netflix e mostra, sem sutilezas, como as expectativas em torno do amor e do “felizes para sempre” podem levar a desastres anunciados — e hilários.

O longa é um lembrete barulhento de que muitas vezes estamos tentando cumprir um papel, não viver uma história real.

A trama gira em torno de Eddie (Ben Stiller), um homem que, aos 40 e poucos anos, se sente pressionado a seguir um roteiro de sucesso amoroso que nunca fez muito sentido pra ele. Ao perceber que está “ficando pra trás”, resolve se casar com Lila (Malin Akerman) após um namoro tão curto quanto mal planejado.

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A decisão, é claro, não parte do amor, mas do medo: o medo do vazio, da solidão, do julgamento alheio. E quando os dois embarcam na lua de mel, o que era ilusão começa a se desfazer rapidinho.

Lila, aliás, não é só incompatível com Eddie — ela parece ter vindo de outro planeta. Malin Akerman entrega uma personagem completamente caótica, exagerada em tudo: nas emoções, na fala, nas atitudes.

Ela é intensa demais para qualquer pessoa lidar, mas é justamente essa intensidade que escancara o tamanho do erro de Eddie. E quando surge Miranda (Michelle Monaghan), uma mulher aparentemente “perfeita”, o protagonista só faz repetir o padrão: em vez de encarar a realidade, ele foge. De novo.

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A graça do filme está no desconforto. Nada é sutil, e os irmãos Farrelly sabem disso. Eles exageram nos momentos constrangedores, exploram situações grotescas e fazem piada com o tipo de comportamento que, se a gente fosse a vítima, daria vontade de sumir. Mas por trás de cada risada, existe uma pontada incômoda: o que estamos rindo é, muitas vezes, um espelho distorcido de nós mesmos.

Eddie não é um mocinho atrapalhado. Ele é, no fundo, um adulto que se recusa a amadurecer. Em vez de refletir sobre seus erros, ele sempre arruma um jeito de colocar a culpa em alguém — ou de correr para a próxima fantasia. Ben Stiller entrega um protagonista que não busca redenção, mas sim desculpas. E isso torna tudo ainda mais engraçado… e triste.

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O que torna Antes Só do que Mal Casado tão interessante é sua recusa em entregar qualquer tipo de final reconfortante. Não há aprendizados profundos, nem reviravoltas que mudam tudo.

O que há são personagens tentando desesperadamente parecer felizes — e falhando miseravelmente nisso. Pode parecer cruel, mas é honesto. E, dentro da proposta do filme, bastante libertador.

Ao fim, fica uma pergunta desconfortável: quantas relações por aí são apenas versões mais silenciosas da história de Eddie e Lila? Talvez rir disso seja uma forma de aguentar o tranco.

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Gabriel tem 24 anos, mora em Belo Horizonte e trabalha com redação desde 2017. De lá pra cá, já escreveu em blogs de astronomia, mídia positiva, direito, viagens, animais e até moda, com mais de 10 mil textos assinados até aqui.