No interior de seu Tesla, Lara Love Hardin observa atentamente uma residência em uma rua tranquila de Aptos, Califórnia. Em uma tarde de novembro de 2008, ela, hoje uma ex-viciada, foi algemada e retirada de casa por um delegado, sendo informada de que não merecia ser mãe.

O incidente marcou o ápice de uma longa batalha contra as drogas, que resultou em seis anos de sobriedade e na perda da custódia de seus quatro filhos. Seu segundo marido também foi preso, e seu filho mais novo foi encaminhado para um orfanato de emergência.

Hardin, agora com 56 anos, relembra: “Não havia mais pensamento mágico. Não havia mais a possibilidade de inventar algo para escapar, contar uma história. Era simplesmente o fim.”

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Antes de sua queda catastrófica, Hardin era proprietária de um cemitério para animais de estimação. Hoje, ela é uma respeitada agente literária e ghostwriter, colaborando em best-sellers, incluindo obras de personalidades como o Arcebispo Desmond Tutu e o Dalai Lama. Representando professores de Stanford, ela até compartilhou um almoço com Oprah.

Embora uma reviravolta tão dramática possa parecer inverossímil, Hardin detalhou sua jornada no livro de memórias “The Many Lives of Mama Love”. O relato sincero e humorado, lançado pela Simon & Schuster, explora como ela construiu uma ponte entre seu passado tumultuado e o presente de sucesso.

Os vizinhos que testemunharam sua prisão eram pais de amigos de seus filhos, que haviam sido apoiativos quando o filho mais novo nasceu. Hardin, no entanto, os vitimou, roubando cheques, cartões de crédito, cartões-presente e mais. Sua dependência levou-a a apropriar-se do Wi-Fi deles enquanto consumia heroína. O episódio ilustra a espiral descontrolada de Hardin, cuja única preocupação era financiar sua próxima dose.

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Crescendo nos subúrbios de Boston, Hardin foi a primeira de sua família a cursar a faculdade, escapando para a Universidade da Califórnia, Santa Cruz, e depois para a UC Irvine, onde obteve um mestrado.

No entanto, a dura realidade pós-graduação surpreendeu-a quando descobriu que suas transgressões financeiras resultavam em crimes separados. Após se declarar culpada de 32 crimes, enfrentou a possibilidade de 27 anos de prisão. Graças a um acordo judicial, passou 10 meses na prisão do condado.

Após o período de encarceramento, Hardin enfrentou as dificuldades de encontrar emprego e moradia devido ao seu histórico criminal. Em uma palestra TEDx de 2019, ela destacou a vida pós-prisão para milhões que, inconscientemente, pagam pelos crimes cometidos para o resto de suas vidas.

Por uma ironia do destino, na mesma semana em que solicitou ajuda alimentar, Hardin conseguiu um emprego na Idea Architects, uma agência literária que representa figuras renomadas como Tutu e Mandela. Doug Abrams, fundador da agência, impressionado com seu talento, a contratou sem verificar suas referências.

O período subsequente foi desafiador para Hardin, que, após uma “noite escura da alma”, tornou-se co-CEO da empresa. Para Abrams, seu crime anterior se transformou em um superpoder de tradução de identidades, permitindo que ela capturasse as vozes de outros de maneira poderosa.

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Trabalhando como ghostwriter, Hardin colaborou com Anthony Ray Hinton em “The Sun Does Shine”, um best-seller de memórias sobre sua injusta prisão no Alabama. Hinton elogiou a empatia e gentileza de Hardin durante o processo de escrita.

Após escrever 12 livros para outros, Hardin finalmente decidiu contar sua própria história. Encorajada por Abrams, ela trabalhou em uma proposta que resultou em um leilão com um adiantamento de seis dígitos. Parte desse valor foi usada para pagar mais de US$ 15 mil em restituição por seus crimes.

“The Many Lives of Mama Love” abrange a infância tumultuada de Hardin, seus dois casamentos fracassados, a escalada do vício e sua determinação em reconstruir um lar estável para seus filhos. O livro também explora as exigências complexas do sistema de justiça criminal e destaca as dificuldades enfrentadas por ex-detentos na reinserção à sociedade.

Em uma entrevista, seu filho, Ty Love, compartilhou como a leitura do livro de sua mãe o transportou de volta a momentos difíceis, mas também o ajudou a entender melhor sua perspectiva. Ele a considera uma heroína que encontrou a luz dentro de si mesma.

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Fonte: Folha de S.Paulo







Gabriel tem 24 anos, mora em Belo Horizonte e trabalha com redação desde 2017. De lá pra cá, já escreveu em blogs de astronomia, mídia positiva, direito, viagens, animais e até moda, com mais de 10 mil textos assinados até aqui.