Karen Armstrong alerta para a necessidade de se acender uma luz onde predomina a escuridão da ignorância, que a seu ver, atende a interesses de muitos. O ocidente dá pouca ou quase nenhuma relevância ao que se passa no resto do mundo, mantendo a postura de se achar superior. Compaixão é uma palavra recorrente em todos os temas que Karen aborda, lembrando sempre que se pôr no lugar do outro é única forma de se ter ideia da dor que o outro sente.

Para Karen nós vivemos numa sociedade “extremamente conservadora”, mas “dogmática”. No entanto as pessoas não se sentem confortáveis em se assumir dogmáticas, ou acham mesmo que não são, por se considerar “tolerantes”. Segundo ela, ser tolerante reforça a ideia que existe um grupo privilegiado de conservadores, que dita as regras e que é composto pela maioria e que, por uma falsa benevolência, vai tolerar que as minorias coexistam. A tolerância não é justiça social, é só uma forma do “vencedor” engolir a seco a presença do “vencido”.

“Temos que ir além disso, pois vivemos num mundo global cada vez mais interdependente. Se a Bolsa cai num determinado lugar, os mercados também cairão no mundo todo nesse mesmo dia.”

Karen responsabiliza os meios de comunicação pelo apego exacerbado que as pessoas mantém ao nacionalismo, que já não faz sentido nos dias atuais, onde tudo está interligado, conectado via tecnologia. A mídia ignora alguns fatos que poderiam transformar a opinião pública. Não há interesse em destituir alguns conceitos errados que ela mesma ajudou a propagar no senso comum, e cita: “Dou um exemplo. Eu escrevo sobre o islã. Desde o 11 de Setembro, foram realizadas pesquisas que deveriam ser relevantes para o público em geral, mas as pessoas nunca ouviram falar delas.”

Existe um estigma enraizado no imaginário público, que é essa coisa de achar que todo mulçumano é extremista. O radicalismo existe, mas apenas uma parcela ínfima dos radicais extremistas teve uma educação islâmica, os demais eram convertidos — ou autodidatas — ou não eram praticantes até se converterem ao radicalismo.
“Embora soe estranho, os jihadistas não são particularmente religiosos. Se fossem, insisto, eles não fariam essas coisas. E a mídia é responsável por não ressaltar, com a suficiente determinação, ideias que vão contra essa imagem.”

As religiões monoteístas sempre insistiram na igualdade e na justiça. É a mensagem do Corão, do Evangelho e dos profetas de Israel, mas não encontramos ainda uma motivação racional para promover a universalização dos direitos humanos.

O Estado é racional e agindo dessa forma não se dá a todos, deixando de fora os mais pobres e nesse aspecto são as religiões que respondem em nome deles, criando um contrapeso entre Estado e religião.

Por outro lado ressalta que muito da ajuda tem sido realizada não por lideres religiosos, mas sim por homens de negocio, o que é uma coisa ótima no sentido de que são mais práticos.

Embora essa postura dos tais homens de negocio seja atribuída à descoberta de que é mais lucrativo não ser avarento e egoísta, que isso é bom para seus negócios, Karen ressalta que o que ainda vale para se consertar o mundo é a famosa “regra de ouro”, ou seja: nunca faça aos outros o que não deseja que façam com você. E lembra que líderes como Buda, Maomé e Jesus, apesar de terem vividos em sociedades turbulentas, sempre pregaram que não se pode aplicar a compaixão somente para os de seu grupo.

Sobre as mudanças no comportamento geradas em função das novas tecnologias, Karen se mostra preocupada em alguns aspectos, considerando absurdo que se priorize as relações virtuais em detrimento das reais. “Dá um pouco de medo. Veja o caso do Twitter. A ideia de que você pode expressar pensamentos substanciosos em 140 caracteres, ou quantos forem, é perigosa, pois reduz a complexidade. Isso sem falar de todo o ódio que aparece e que as pessoas podem lançar sem estar cara a cara com os interlocutores. Supostamente é algo que serve para unir, mas, ao mesmo tempo, está fazendo aflorar alguns de nossos piores defeitos.”

Deveríamos, diz Karen, nos sentir incomodados com o sofrimento do outro, não apenas com surtos de compaixão que nos fazem dar likes em postagens, mas o tempo todo.

 

Fonte: El País







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