Quando os arqueólogos abriram a área de Nahal Qomem, no atual território de Israel, não esperavam encontrar um complexo de produção tão sofisticado para um período tão antigo.
Em vez de oficinas improvisadas, surgiu um espaço organizado, com padrão de trabalho e objetivo claro: fabricar lâminas e ferramentas de sílex em larga escala — exatamente o tipo de especialização que textos antigos atribuem aos cananeus.
As peças recuperadas mostram domínio técnico pouco comum para o início da Idade do Bronze. A talha por pressão, a escolha do sílex e a sequência precisa de golpes produziram lâminas longas, finas e regulares.

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Esse nível de acabamento não surge do nada: aponta para um corpo de artesãos treinados, com práticas compartilhadas e controle de qualidade. Jacob Vardi e Dudu Biton, da Autoridade de Antiguidades de Israel, destacam que o processo exigia conhecimento acumulado e acesso a matéria-prima adequada.
Um detalhe que intriga é a quase ausência de resíduos espalhados ao redor. Locais de talha costumam ter chão salpicado de lascas. Aqui, não. A hipótese é pragmática: recolher as sobras ajudava a esconder o método e a proteger o ofício do grupo, prática comum quando o conhecimento técnico vale tanto quanto o produto final.
O acervo não se limita a itens de combate. Ferramentas agrícolas indicam aproveitamento do mesmo saber para tarefas vitais: cortar, colher, preparar. Essa versatilidade sugere uma economia que não dependia apenas de trocas ocasionais, mas que sabia planejar produção e armazenar excedentes.

As escavações também mapearam centenas de fossos subterrâneos usados como depósitos e, em alguns casos, como moradia. A ocupação atravessa o Calcolítico e chega à Idade do Bronze Inicial, em continuidade de séculos, sinal de que o assentamento sustentou relevância econômica e logística por muito tempo.
A padronização das lâminas sugere distribuição para além do entorno imediato. Em vez de consumo doméstico, Nahal Qomem funcionou como polo que abastecia outras comunidades do Levante. Rede de trocas organizada, produção especializada e circulação regular de bens compõem um cenário coerente com descrições antigas de sociedades estruturadas.
Quando se fala que “parte da Bíblia é verdadeira”, trata-se disso: correspondência entre o retrato de grupos com organização e habilidade técnica e a evidência material de uma comunidade que dominava processos, protegia seu know-how e mantinha produção estável por gerações.
Não prova narrativas específicas, mas confirma que a base social e tecnológica descrita em textos antigos encontra chão firme nas camadas do sítio arqueológico.
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