Quando cientistas começam a “ouvir” menos o maior animal do planeta, não é só curiosidade científica: é sinal de que algo na engrenagem do mar está falhando.
Foi exatamente isso que uma equipe do MBARI registrou ao monitorar a costa da Califórnia por seis anos: as baleias-azuis cantaram bem menos em períodos de mar anormalmente quente — e isso diz muito sobre fome, estresse e um oceano em desequilíbrio.
Entre julho de 2015 e junho de 2021, hidrofones instalados no santuário de Monterey Bay captaram padrões acústicos de baleias-azuis, jubartes e fin.
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O registro revela que as azuis, dependentes de krill, reduziram fortemente a ocorrência de canto nos anos quentes; já as jubartes, que conseguem alternar a dieta para peixes como anchovas e sardinhas, se saíram melhor. Em síntese: menos alimento disponível = menos tempo e energia para cantar.
A virada começou com uma onda de calor marinha histórica no Pacífico Nordeste, apelidada de The Blob (2013–2016). As temperaturas acima do normal mudaram a química e a circulação do oceano, favoreceram florações de algas tóxicas e empurraram o sistema trófico para fora do prumo — inclusive derrubando a disponibilidade de krill, a base da dieta das baleias-azuis.
Reportagens e análises sobre o estudo apontam que as vocalizações de baleias-azuis diminuíram quase 40% após a onda de calor — um tombo compatível com a escassez de presas observada no período. É o tipo de número que preocupa porque o canto tem função ecológica: comunicação à longa distância e comportamento reprodutivo.
As azuis são “especialistas”: praticamente só comem krill. Quando esse recurso rareia ou se dispersa, elas precisam vasculhar áreas muito maiores e mergulhar mais tempo para conseguir energia.
Sobra pouco para atividades como o canto. As jubartes, por outro lado, trocam para cardumes de peixes quando o krill está em baixa — vantagem que se refletiu no aumento contínuo de detecções de canto ao longo dos anos.

A relação “menos comida → menos canto” não é exclusiva da costa californiana e foi observada em outros estudos durante eventos de calor marinho, reforçando a ideia de que baleias funcionam como sentinelas do estado do oceano. Quando elas silenciam, é porque o sistema inteiro está sob pressão.
A pesquisa do MBARI, publicada na PLOS One, deixa um recado prático: ouvir o mar é monitorar a saúde do ecossistema em tempo quase real.
Redes de hidrofones, dados de pesca e análises de isótopos nos tecidos dos animais ajudam a conectar comportamento, disponibilidade de presas e eventos extremos — uma base técnica vital para orientar conservação em um cenário de ondas de calor marinhas mais frequentes e intensas.
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